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Como a RO-DBT pode ser usada em casos de anorexia nervosa?

Imagem por Thought Catalog via Unsplash.

Sabemos o quão desafiadores os casos de Anorexia Nervosa (AN) podem ser, pela gravidade, complexidade e pela falta de um tratamento realmente eficaz baseado em evidências. Atualmente, consultando a APA divisão 12, artigos e Associações de Transtornos Alimentares, temos as seguintes recomendações de tratamento para Anorexia Nervosa:

  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): apresenta evidência modesta, sendo utilizada como uma intervenção ambulatorial pós-hospitalização, para prevenção de recaída, manutenção e restauração do peso, sendo utilizada para adolescentes e adultos. Emprega estratégias comportamentais, incluindo o reestabelecimento de um padrão regular de alimentação, exposição sistemática a alimentos e utiliza estratégias cognitivas para motivação para mudança e cognições sobre forma e peso. Aborda e desafia o vínculo aparentemente inseparável entre a identidade pessoal e transtorno. Geralmente, a duração do tratamento é de 12 meses. Apresenta evidência controversa em relação ao uso da TCC para recuperação do peso quando há quadros de muito baixo peso.
  • Modelo Maudlsley (tratamento baseado na família): desenvolvido, prioritariamente, para adolescentes com diagnóstico de AN, tem foco no envolvimento ativo e estruturado da família, apresentando evidência forte como tratamento para AN. É uma intervenção ambulatorial para adolescentes clinicamente estáveis, estruturado em três fases, a saber:
    • 1 – pais se encarregam do processo de reabilitação nutricional a partir das orientações profissionais e ajuda do psicólogo para empregar as estratégias.
    • 2- o controle sobre a alimentação é devolvido de forma progressiva ao adolescente, de acordo com o que for possível para a idade.
    • 3 – na ausência de queixas ligadas ao transtorno alimentar, são abordadas questões sobre o desenvolvimento psicossocial. Tem duração de 15 à 20 sessões, realizadas ao longo de 6- 12 meses.

Dessa forma, a RO-DBT por ser uma terapia transdiagnóstica e focada em transtornos do supercontrole vêm sendo estudada e pesquisada em casos de AN. Para explicar as características do supercontrole, Lynch desenvolve o modelo neurorregulatório da RO-DBT, explicando a diferença entre a experiência emocional x sinalização social, criando formas de categorização das experiências e as consequências na sinalização social, que tornam -se vieses para a resposta comportamental.

No espectro de supercontrole à desregulação emocional, considera-se a AN como um transtorno do supercontrole e o modelo neurorregulatório permite explicar o comportamento restritivo alimentar: pessoas supercontroladas são mais sensíveis a pistas de ameaça e ativam frequentemente o sistema nervoso simpático, em respostas de luta ou fuga. Assim, em períodos de restrição alimentar, o sistema neurorregulatório reconhece o déficit metabólico como uma ameaça a vida, ativando o complexo vagal dorsal, que minimiza respostas de dor e provoca entorpecimento emocional, tornando-se uma forma de regulação do afeto. A restrição alimentar contínua provoca esse ciclo vicioso e se perpetua um comportamento alimentar maladaptativo.

Te convidamos a ler a parte 2 desse artigo: Como a RO-DBT pode ser usada em casos de anorexia nervosa? Estratégias e estudos.

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Escrito por Juliana Massapust

Doutora em Neurociências pela UFF. Psicóloga pela UFRJ. Certificação em Terapia Comportamental Dialética (Behavioral Tech) e em Terapia Comportamental Dialética Radicalmente Aberta (Radically Open) e Treinamento de Habilidades em DBT (Vincular). Gestora da RO DBT Brasil. Aperfeiçoamento em Terapias Contextuais, Formação em Terapias Contextuais, em Transtornos Alimentares e Obesidade e Terapia Cognitivo Sexual.

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