Juliana Massapust
Leia abaixo a relação entre supercontrole e orgulho secreto.
Dentro dos conceitos da Terapia Comportamental Dialética Radicalmente Aberta (RO DBT), dois temas intrigantes são o “enigma predicament” (dilema enigmático ou do quebra-cabeça) e o “orgulho secreto” dos supercontrolados. Esses conceitos são fundamentais para entender o framework teórico da RO DBT e como ela aborda problemas do supercontrole.
Enigma Predicament
O “enigma predicament” refere-se à situação paradoxal em que se encontram as pessoas com altos níveis de supercontrole. Por um lado, elas possuem características que, superficialmente, parecem benéficas, como atenção aos detalhes, alta dedicação, e uma forte ética de trabalho. No entanto, essas mesmas características podem levar a rigidez comportamental, isolamento social, e dificuldades na expressão emocional. A RO DBT aponta que o supercontrole pode ser adaptativo em certas situações ou ambientes (por exemplo, ao lidar com tarefas que exigem precisão) e pode se tornar maladaptativo quando generalizado para todos os aspectos da vida, limitando a flexibilidade emocional e social.
Orgulho Secreto
O “orgulho secreto” é um conceito relacionado ao “enigma predicament” e reflete a tendência de pessoas supercontroladas de se orgulharem de sua capacidade de controlar suas emoções e comportamentos, mesmo quando isso resulta em prejuízos pessoais. Pessoas supercontroladas encaram sua habilidade para manter o controle como uma virtude ou um sinal de força, o que pode reforçar o comportamento supercontrolado e torna difícil para elas reconhecerem e admitirem que precisam de ajuda. Isso pode criar uma barreira significativa para o engajamento com tratamentos que incentivam a vulnerabilidade emocional e a conexão social, como é o caso da RO DBT.
Orgulho secreto como a Kriptonita do supercontrolado
Imaginem o orgulho secreto (tendência de pessoas supercontroladas de se orgulharem de sua capacidade de controlar suas emoções e comportamentos, mesmo quando isso resulta em prejuízos pessoais) como a kriptonita para as pessoas com supercontrole.
Na narrativa do Superman, a kriptonita é uma substância que, apesar de originária do planeta natal do herói, torna-se sua maior fraqueza na Terra. Essa metáfora ilustra vividamente como algo que é intrinsecamente ligado ao indivíduo — neste caso, a capacidade de manter um alto nível de controle emocional — pode paradoxalmente se tornar sua maior vulnerabilidade.
Assim como o Superman, que possui habilidades extraordinárias e uma força inigualável, as pessoas supercontroladas apresentam qualidades aparentemente positivas: hiperfoco em detalhes, dedicação incansável e uma ética de trabalho exemplar. Essas características são, à primeira vista, superpoderes que as ajudam a alcançar altos níveis de sucesso em diversas áreas da vida.
No entanto, o dilema surge quando essas mesmas qualidades, semelhantes à kriptonita para o Superman, começam a revelar um lado sombrio. A rigidez comportamental, o isolamento social e as dificuldades emocionais começam a se manifestar, revelando que o supercontrole, assim como a kriptonita, tem o potencial de enfraquecer a pessoa.
O orgulho secreto, então, é como a kriptonita — um aspecto de sua identidade que, embora originalmente visto como uma fonte de força, acaba por se revelar uma vulnerabilidade significativa. Esse orgulho pelo próprio controle e pela autossuficiência pode impedir a pessoa de reconhecer quando esse controle se torna maladptativo, limitando sua flexibilidade emocional e sua capacidade de se conectar socialmente. Esse orgulho reforça o comportamento de supercontrole, criando uma barreira contra a busca de ajuda ou a admissão de que a vulnerabilidade emocional e a conexão social são, na verdade, componentes cruciais para o bem-estar psicológico.
Resumo: assim como a kriptonita enfraquece o Superman, impedindo-o de usar seus superpoderes para o bem, o orgulho secreto dos supercontrolados pode impedi-los de alcançar um equilíbrio saudável na vida, limitando sua felicidade e sua capacidade de formar relações profundas e significativas. Reconhecer essa “kriptonita interna” é o primeiro passo para superá-la, permitindo que pessoas supercontroladas explorem novas formas de flexibilidade e abertura, essenciais para uma vida valiosa e que vale a pena ser compartilhada.
