Nosso sistema neurossensorial está em constante trabalho, examinando tanto o mundo ao nosso redor quanto a nós mesmos, e respondendo a esses estímulos o tempo todo. Para garantir nossa sobrevivência e bem-estar, nosso corpo analisa o ambiente em busca de pistas emocionalmente relevantes, seja de forma consciente ou não. As pistas podem ocorrer dentro do corpo (pensamentos, por exemplo), fora do corpo (um objeto caindo), ou contextualmente (uma hora do dia evoca desejos de fumar um cigarro, por exemplo). Aprender sobre essas pistas nos proporciona maior autoconsciência sobre quais fatores nos levam a entrar em um estado emocional ou outro. É importante destacar, também, que nunca estamos isentos de emoção e, portanto, sempre nos encontramos em um dos cinco estados emocionais. De modo geral, quando um sistema está ativo, os demais permanecem inibidos. Quando uma tendência de resposta emocional é ineficaz, passamos para outra resposta neurorregulatória.
Existem cinco categorias de respostas: pistas de segurança, pistas de novidade, pistas de recompensa, pistas de ameaça e pistas de sobrecarga.
- Pistas de segurança
Estímulos associados ao sentimento de proteção, segurança, amor, cuidado e senso de pertencimento a uma comunidade ou tribo. Por exemplo: caminhar na natureza, ouvir a voz de uma pessoa amada ou brincar com seu cachorro. Quando estamos nesse estado, nos sentimos confortáveis para explorar o ambiente, maximizando nosso potencial de descobrimento e aprendizagem. Sentimo-nos à vontade para socializar e nos conectar com outras pessoas. Além disso, apresentamos sinais físicos do sistema de segurança, como respiração e frequência cardíaca desaceleradas, músculos relaxados, expressões faciais mais evidentes e contato visual.
- Pistas de novidade
Estímulos discrepantes ou inesperados que exigem uma avaliação automática para determinar se são importantes para o bem-estar. Por exemplo: um barulho muito alto ou um cheiro estranho em determinado lugar. Nesse estado, não estamos totalmente relaxados, mas também não estamos em alerta máximo. Geralmente, a frequência cardíaca e respiratória aumenta, e direcionamos nossa atenção ao estímulo inesperado.
- Pistas de recompensa
Estímulos avaliados como potenciais de gratificação ou prazer. Cada pessoa tem suas próprias pistas recompensadoras, que podem variar de uma nota 10 em uma prova importante até a conquista de alguns quilos a menos na balança. Quando estamos nesse estado, sentimos uma antecipação de algo prazeroso, ficamos eufóricos, nossa frequência cardíaca e respiratória aumenta, e tendemos a buscar a recompensa em potencial com maior animação e entusiasmo. No entanto, existe um lado negativo: podemos ficar tão excitados com a expectativa da recompensa que não conseguimos dormir ou relaxar. Além disso, podemos negligenciar outros aspectos da vida ou apresentar comportamentos descontextualizados, prejudicando as interações sociais.
- Pistas de ameaça
Estímulos percebidos como potencialmente perigosos ou prejudiciais. Nesse estado, antecipamos que algo ruim está prestes a acontecer ou que nossos objetivos podem não ser alcançados. Sentimos ansiedade, irritabilidade e uma vontade de fugir ou lutar. Normalmente, a irritabilidade nos conduz ao ataque (luta), enquanto a ansiedade tende a nos levar à fuga. Nossos músculos se enrijecem, a respiração e a frequência cardíaca aumentam, e nosso corpo se prepara para reagir. Nesse estado, tanto nossa empatia quanto a sinalização pró-social são prejudicadas. Podemos apresentar expressões faciais reduzidas, como um sorriso forçado, e nossa prosódia de fala torna-se monótona.
- Pistas de sobrecarga
Estímulos que ativam nosso sistema de desligamento de forma emergencial e imediata. Quando não há possibilidade de luta ou fuga, nosso cérebro-corpo reage desligando os comportamentos de enfrentamento para conservar energia e maximizar a sobrevivência. Nesse estado, apresentamos respiração e frequência cardíaca desaceleradas, e a sinalização de segurança social é totalmente inibida, resultando em uma perda completa de expressão facial. Sentimos menos dor e corremos o risco de dissociar ou até mesmo desmaiar.
Um desafio para todos: tente observar em qual dessas categorias você se encontra no momento. Pense sobre o que está passando pela sua mente, como seu corpo está reagindo, o que sente vontade de fazer e qual emoção está experimentando. Isso pode oferecer pistas sobre o estado emocional em que você se encontra e sobre sua sinalização social no momento. Por exemplo, se estivermos em um contexto de interação social enquanto engajados em um estado de ameaça, é provável que nossa sinalização seja caracterizada por expressões faciais reduzidas e fala monótona, dificultando a conectividade com os outros. Isso pode favorecer o isolamento social e reforçar a percepção do ambiente como hostil, alimentando um ciclo de retroalimentação que impacta negativamente nossas relações interpessoais.
Ao perceber esses padrões, será possível começar a fazer escolhas para retornar a um estado de segurança social. Reflita sobre quais são, para você, suas pistas de segurança, de recompensa, de ameaça, de sobrecarga e de novidade. Esse processo de reflexão pode ajudá-lo a desenvolver maior consciência sobre o seu funcionamento.