in

Sinalização social e interseccionalidade: o que podemos aprender?

Neste artigo, discutiremos a sinalização social, um conceito da Terapia Comportamental Dialética Radicalmente Aberta (RO-DBT), incluindo uma perspectiva interseccional. O objetivo não é esgotar o tema, mas fomentar discussões críticas atravessadas por questões culturais.  

A Terapia Comportamental Dialética Radicalmente Aberta (RO-DBT) tem como objetivo tratar pessoas caracterizadas pelo supercontrole e apresenta evidências para transtornos relacionados a ele, como transtornos de personalidade, anorexia nervosa e queixas de ansiedade refratárias a outros tratamentos (Sampaio e Simpson, 2020). Pacientes com alto supercontrole (SC) apresentam rigidez cognitiva e comportamental, resultando em um controle excessivo e desadaptativo.  

Entre os conceitos centrais dessa abordagem transdiagnóstica, destaca-se a “sinalização social“. É um conceito que se refere ao comportamento de enviar sinais claros, eficazes e acessíveis aos outros sobre as próprias necessidades. Essa habilidade é importante para facilitar a clareza na comunicação, ser autêntica e manter uma boa relação interpessoal. Vale destacar que essa sinalização social não envolve apenas a expressão verbal, mas também a linguagem não-verbal (Lynch, 2018). Já aconteceu com você demonstrar visualmente algo desconexo do que gostaria? De se sentir feliz, mas estar com uma expressão neutra? Em que, por exemplo, as suas feições não comunicam a sua verdade?  

Lynch (2018) defende que, para a sobrevivência da espécie durante a evolução, a formação de laços sociais era essencial. Ele explica que pessoas identificadas pelo perfil proposto pela RO-DBT têm tendência a mascarar seus sentimentos, o que prejudica a formação de vínculos, gerando isolamento social, solidão e sofrimento psicológico.  

Todavia, ao tratarmos da formação desses vínculos, é fundamental compreender como eles são atravessados por questões sociais. Kimberlé Crenshaw (1989) apresentou o conceito de interseccionalidade, que considera as múltiplas interações, como gênero, raça, classe, entre outros, e como essas dinâmicas impactam a experiência dos indivíduos na sociedade.  

Por exemplo, ao tratar uma mulher, é necessário atentar para as pressões de gênero. Se essa mulher for negra, há ainda a variável da raça. Caso seja uma mulher negra e lésbica, outros recortes interferirão na forma como ela se expressa socialmente.  

Isso gera uma dúvida sobre como a RO-DBT tem considerado esses múltiplos fatores relacionados e o impacto na sinalização social. Qual é o perfil dos participantes das pesquisas? Será que o conceito de supercontrole, definido com uma perspectiva americana, realmente se aplica no contexto brasileiro, onde há uma grande diversidade cultural? Essa reflexão nos leva à importância de realizarmos pesquisas que apliquem a RO-DBT considerando essas diferenças, a fim de sermos mais sensíveis culturalmente e compreender como esses fatores podem influenciar as práticas e intervenções.

Diante do exposto, entendemos que a sinalização social será atravessada por essas questões culturais, reforçando nosso compromisso ético-político na atuação do psicólogo, conforme destacado em nosso Código de Ética Profissional (CFP, 2005). Assim, acreditamos que esse letramento cultural é indispensável para evitar práticas iatrogênicas e reforçar discursos dominadores no setting terapêutico. 

Referências bibliográficas:

Conselho Federal de Psicologia. Código de Ética Profissional dos Psicólogos, Resolução n.º 10/05, 2005.

Crenshaw, Kimberlé W. Demarginalizing the intersection of race and sex: a black feminist critique of discrimination doctrine, feminist theory and antiracist politics. University of Chicago Legal Forum, 1989, p. 139-167.

Lynch, Thomas R. Radically open dialectical behavior therapy: theory and practice for treating disorders of overcontrol. Oakland: New Harbinger Publications, 2018.

Sampaio, M.; Simpson, M. Terapia comportamental dialética radicalmente aberta — uma introdução. In: FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE TERAPIAS COGNITIVAS; NEUFELD, C. B.; FALCONE, E. M. O.; RANGÉ, B. P. (Orgs.). PROCOGNITIVA Programa de Atualização em Terapia Cognitivo-Comportamental: Ciclo 7. Porto Alegre: Artmed Panamericana, 2020. v. 1, p. 9–33.

Escrito por Gabi Escafura

Graduanda em Psicologia pelo Centro Universitário Celso Lisboa (UCL). É Presidente da Liga Acadêmica em Terapias Cognitivas e Comportamentais (LATCC). É membra ativa da Comissão Própria de Avaliação (CPA) e correspondente discente na Rede Académica das Ciências da Saúde da Lusofonia (RACS). Realiza estágio supervisionado em Avaliação Neuropsicológica no Centro Universitário Celso Lisboa e em Terapia Comportamental Dialética Radicalmente Aberta (RO-DBT) no Centro de Avaliação, Atendimento e Educação em Saúde Mental - CAAESM.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site é protegido por reCAPTCHA e pelo Googlepolítica de Privacidade eTermos de serviço aplicar.