A Terapia Comportamental Dialética Radicalmente Aberta (RO-DBT) é uma terapia transdiagnóstica que surgiu a partir da Terapia Comportamental Dialética (DBT). Essa perspectiva transdiagnóstica (Fanzin et al., 2018) abrange a complexidade dos fenômenos psicopatológicos e a sobreposição de sintomas descritos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), além das comorbidades. Baseia-se na ideia de que os transtornos mentais compartilham aspectos comuns que influenciam sua origem e manutenção, em vez de enfatizar as especificidades de cada um.
Enquanto a DBT se relaciona com a desregulação emocional, a RO-DBT tem como foco o supercontrole, que pode levar à redução da abertura de novas experiências, aumento da inibição emocional, perfeccionismo, isolamento social e dificuldades na conectividade social, ou seja, na intimidade e compartilhamento de experiências.
A DBT trabalha priorizando a regulação emocional e a aceitação radical, enquanto a RO-DBT foca em aspectos relacionados ao estilo de enfrentamento supercontrolado, promovendo a abertura radical. A base teórica da DBT é biossocial, enquanto a RO-DBT adota uma perspectiva neurobiossocial do supercontrole, considerando influências biotemperamentais, genéticas, ambientais e estratégias individuais de enfrentamento.
Nesta revisão, foram incluídos 14 estudos (1 estudo de caso, 2 estudos qualitativos, 5 séries de casos, 4 estudos quase-experimentais e 2 Ensaios Clínicos Randomizados – ECRs), que analisaram a eficácia da RO-DBT em diferentes populações: adultos com Anorexia Nervosa (AN), adultos com Depressão Refratária ao tratamento, supercontrole mal-adaptativo, adolescentes com AN, Transtornos Alimentares (TAs) e traços de personalidade supercontrolados. As intervenções incluíram diversas variações do planejamento terapêutico da RO-DBT, como sessões individuais e de treinamento de habilidades, tratamento hospitalar com aulas de habilidades, RO-DBT adaptada para adolescentes, apenas treinamento de habilidades e RO-DBT padrão combinada com medicação adjuvante. Os desfechos avaliados incluíram melhorias na sintomatologia de transtornos alimentares, depressivos e transdiagnósticos.
Os autores avaliaram o risco de viés e destacaram a clareza metodológica dos estudos, incluindo questões de pesquisa, coleta e análise de dados, e influência do pesquisador. O método utilizado para essa avaliação foi aplicado de forma independente por ambos os revisores, que utilizaram a ferramenta de avaliação crítica da JBI (o que é, só colocar uma pequena referência) adequada para cada tipo de estudo proposto.
Nos resultados sobre AN, observaram-se aumentos no índice de massa corporal, bem-estar e qualidade de vida. Qualitativamente, os participantes relataram benefícios como maior conexão social, confiança e motivação para alcançar objetivos. Entre adolescentes com padrões alimentares restritivos, os estudos mostraram reduções em sintomas depressivos, inflexibilidade cognitiva, isolamento percebido e supressão emocional, além de aumentos no prazer, resposta a recompensas e conexão social.
Nos casos de sintomas depressivos, a intervenção resultou em reduções significativas nos sintomas depressivos em comparação com o Tratamento Usual (TU), além de benefícios adicionais relacionados à flexibilidade psicológica, enfrentamento emocional e funcionamento interpessoal. No entanto, no follow-up, foi observado que a diferença em relação ao TU se manteve apenas até os 7 meses, desaparecendo após 12 e 18 meses;
Um dos estudos analisados na revisão (Cornwall, P. L., Simpson, S., Gibbs, C., & Morfee, V., 2022 apud Hatoum, A. H., & Burton, A. L., 2024) contou com uma amostra de participantes diagnosticados com transtorno do espectro autista (TEA), na qual foi observada uma redução dos sintomas típicos do supercontrole por meio das intervenções da RO-DBT.
A perspectiva transdiagnóstica destacou que a RO-DBT reduz psicopatologias relacionadas ao supercontrole, melhora habilidades sociais e de enfrentamento e promove maior prazer e segurança social. Contudo, os autores enfatizam a importância de isolar variáveis, como hospitalização ou uso de medicação, para avaliar a eficácia do tratamento. Entretanto, compreendemos e ressaltamos a dificuldade desse isolamento, considerando o contexto das pesquisas clínicas e o perfil dos participantes, especialmente em uma sociedade marcada pelo imperativo de produtividade, que reforça padrões de supercontrole. Além disso, os autores destacam a relevância do monitoramento pós-intervenção para avaliar a manutenção dos benefícios a longo prazo.
A RO-DBT apresenta evidências promissoras de eficácia no tratamento de transtornos associados ao supercontrole mal-adaptativo, devido ao seu caráter transdiagnóstico. Os efeitos positivos em sintomas depressivos, por exemplo, parecem ser mediados pela maior flexibilidade psicológica promovida pela abordagem. Além disso, melhorias foram observadas em casos de AN, TEA e em indivíduos com transtornos de longa duração ou resistentes ao tratamento. No entanto, mais estudos robustos são necessários para consolidar o corpo de evidências sobre essa intervenção.
A revisão reforça a necessidade de mais pesquisas controladas e de longo prazo para confirmar os benefícios da RO-DBT, especialmente em comparação com outros tratamentos. Sem grupos de controle, como em alguns estudos incluídos, os resultados positivos podem não ser diretamente atribuídos à intervenção. Além disso, é necessário explorar mais profundamente a adaptação da RO-DBT para diferentes populações e contextos.
Referências bibliográficas:
Franzin, R., Caetano, K. A. S., & Melo, W. V. (2018). Terapia cognitivo-comportamental com idosos. In Federação Brasileira de Terapias Cognitivas, C. B. Neufeld, E. M. O. Falcone & B. P. Rangé. (Orgs.). PROCOGNITIVA Programa de Atualização em Terapia Cognitivo-Comportamental: Ciclo 4. (pp. 31–73). Porto Alegre: Artmed Panamericana. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 4).
Hatoum, A. H., & Burton, A. L. (2024). Applications and efficacy of radically open dialectical behavior therapy (RO DBT): A systematic review of the literature. Journal of Clinical Psychology, 1–20. https://doi.org/10.1002/jclp.23735