Você já parou para pensar por que temos emoções? essas reações tão intensas, às vezes imprevisíveis, que passam pelo nosso corpo como ondas? Na Terapia Comportamental Dialética Radicalmente Aberta (RO DBT), aprendemos que as emoções não são “falhas” no sistema, mas sim nossos maiores aliados: elas nos guiam em decisões rápidas, motivam a ação, comunicam intenções e fortalecem nossos laços sociais.
Muitas crenças que temos sobre emoções, como: “sentir é fraqueza” ou “emoções são imprevisíveis”, funcionam como mitos que limitam nossa abertura ao que realmente sentimos. A prática da auto investigação convida você a examinar essas crenças sem julgá-las, isto é, fazer, a si próprio, indagações como: de onde elas vêm? Que função cumprem em sua vida? Ao adotar uma postura curiosa, você cria espaço para questionar padrões rígidos e desenvolver uma relação mais flexível e funcional com suas emoções.
Como as emoções nos ajudam
Imagine, por um instante, depender apenas da razão para desviar de um carro que se aproxima em alta velocidade. Provavelmente, você não teria tempo de calcular ângulos e velocidades. É a emoção do medo que toma as rédeas e nos faz agir antes mesmo que possamos fazer um raciocínio via cognição superior.
Cada emoção traz em si um impulso de ação específico que foi selecionado no nível filogeneticamente: o medo nos prepara para fugir, a vergonha para nos esconder, a culpa para reparar ou fazer as pazes, a tristeza para se isolar, o nojo para expulsar, a alegria para nos aproximar de outras pessoas, o amor para relaxar e socializar e a curiosidade para explorar.
Além disso, nossas expressões faciais e gestos transmitem aos outros aquilo que não conseguimos dizer em palavras. Um olhar sério coloca limites, um sorriso convida à aproximação. E é por meio de sutis imitações, o que chamamos de micromimética, que criamos empatia: ao espelhar a expressão de alguém, sentimos o que o outro sente; fortalecendo nossos vínculos.
Ao entender o papel de cada emoção, deixamos de vê‑las como inimigas e passamos a valorizá‑las como informações preciosas sobre nós mesmos e sobre o mundo ao nosso redor.
Quatro passos para rotular emoções com precisão
Saber identificar e dar nome ao que sentimos é uma habilidade poderosa. Quando rotulamos corretamente nossas emoções, ganhamos clareza sobre nossos comportamentos e comunicamos com mais autenticidade o que se passa em nosso íntimo. Na RO DBT, há 4 passos para essa rotulação:
1. Descreva a pista desencadeante:
Pergunte-se: o que despertou essa emoção? Foi um evento externo (um comentário, uma situação) ou uma pista interna (um pensamento, uma lembrança)? Qual era o contexto: o dia, o ambiente, seu humor prévio? Anotar esses detalhes ajuda a identificar a origem precisa da emoção.
2. Identifique o sistema cérebro‑corpo ativado
Preste atenção nas sensações físicas: você se sentiu relaxado e calmo, ou tenso e aquecido? Cada padrão corporal remete a um dos cinco sistemas emocionais principais: segurança social (calma), novidade (alerta), recompensa (energia), ameaça (tensão) e sobrecarga (entorpecimento). Reconhecer o sistema ativado reduz a ambiguidade sobre “qual emoção” está emergindo.
Vale a pena dar uma revisitada na lição 2 “Compreendendo as emoções”:
3. Observe seu sinal social
Reflita sobre como você se expressou externamente. Manteve contato visual e voz suave (segurança social)? Ficou imóvel e com olhar fixo (avaliação de novidade)? Teve gestos amplos e fala acelerada (excitação social)? Uma expressão tensa e fala dura indica reação defensiva; movimentos lentos e fala arrastada sugerem desligamento parassimpático. Esses sinais são pistas valiosas sobre o tipo de emoção que está em jogo.
4. Identifique seus comportamentos
Cada emoção traz um provável comportamento específico: vontade de fugir (medo), de se esconder (vergonha), de consertar algo (culpa), de se isolar (tristeza), de se afastar (nojo), de se aproximar e saltar (alegria), de relaxar e socializar (amor), ou de explorar (curiosidade). Ao notar esse “empurrão interno”, fica mais fácil nomear a emoção e escolher respostas mais conscientes.
Colocando em prática
Para integrar essas habilidades no seu dia a dia, reserve alguns minutos todas as noites para revisitar um momento marcante do dia. Use um caderno ou bloco de notas para seguir os quatro passos: descreva a pista, identifique o sistema corpo‑mente, observe seu sinal social e anote os comportamentos que surgiram.
Aumentando a consciência emocional, melhoramos nossa sinalização social e, por consequência, nossos vínculos interpessoais; diminuindo nossa solidão emocional. Assim, construímos, pouco a pouco, uma vida que vale a pena ser compartilhada!