O autocontrole pode ser caracterizado por comportamentos inflexíveis, alta tolerância ao sofrimento, baixa resposta à recompensas e alta resposta ás ameaças, havendo um grande foco em detalhes. A Terapia Comportamental Dialética Radicalmente Aberta (RO DBT) visa diretamente esse funcionamento supercontrolado.
A RO-DBT é uma terapia transdiagnóstica que visa transtornos com um enfrentamento desadaptativo e supercontrolado. O tratamento foca em classes de comportamentos como:
– Comportamento hiperfocado em detalhes e excessivamente cauteloso
– Comportamento rígido e governado por regras
– Expressão emocional inibida
– Conexões e relacionamentos sociais distantes
– Tendências aumentadas para se envolver em comparações, inveja e amargura.
A RO-DBT visa a solidão emocional gerada pelos déficits em sinalização social, onde o foco é gerar uma sinalização social mais adaptativa que demonstre abertura e vulnerabilidade para propiciar uma maior conexão social. Há um foco na comunicação social e nos sinais que são transmitidos para as pessoas, sendo sinal qualquer comportamento realizado na presença de outra pessoa.
Muitas pesquisas já demonstraram como a falta de conexão social contribui para insucessos no tratamento de transtornos mentais, mas a RO-DBT é o primeiro tratamento a enfatizar a sinalização social como um mecanismo primário de mudança.
O terapeuta atua como um “embaixador tribal” em que reconhece a falta de habilidades do cliente em formar relacionamento íntimos e o ajuda a demonstrar sinais de abertura e vulnerabilidade para estabelecer vínculos de uma nova maneira. A função do terapeuta é auxiliar o paciente a se integrar na “tribo”.
A RO-DBT pode ser uma escolha de tratamento para transtornos de personalidade dos grupos A e C e anorexia nervosa, assim como pode ser muito útil em transtornos de humor e ansiedade resistentes ao tratamento, sendo indicada quando há um evidente excesso de controle mal adaptativo.
Em um estudo com depressão refratária, os pacientes tratados com RO-DBT apresentaram uma melhora significativa dos sintomas comparado ao tratamento usual, mas em 4 meses isso não se manteve. Contudo os pacientes demonstraram aumento no enfrentamento emocional e diminuição na inflexibilidade psicológica.
Em outro estudo com idosos com doenças crônicas não responsivas, o tratamento com RO-DBT testado após seis meses foi mais efetivo do que o tratamento medicamentoso. Há também estudos que demonstram esse tratamento como efetivo para anorexia nervosa, em que os pacientes aumentaram o IMC e tiveram redução em seus sintomas. Ademais, RO-DBT também foi projetada para trabalhar com populações clínicas supercontroladas heterogêneas, houve um estudo que demonstrou redução das psicopatologias nesse cenário, o que se manteve ao longo do tempo. Dessa forma, percebemos que apesar dos estudos em RO-DBT não serem tão numerosos ainda, ela já vem apresentando resultados promissores.
O controle excessivo se torna estável por volta dos 5 anos, assim é importante que a RO-DBT se adapte para tratar as crianças e os cuidadores, visto que a infância é o melhor período para ensinar novas habilidades em razão da neuroplasticidade, aumentando o impacto do tratamento. Portanto, é importante avaliar bem a existência da personalidade supercontrola, sendo a RO-DBT o melhor tratamento nesses casos. Em casos em que o tratamento de primeira linha não surtiu efeito, ela também é indicada, visto que as pesquisam apoiam sua eficácia com doenças crônicas e resistentes ao tratamento.