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Abertura Radical: Desbloqueando Novas Possibilidades?

A Abertura Radical é um princípio filosófico e uma habilidade fundamental na Terapia Comportamental Dialética Radicalmente Aberta (RO-DBT). Para seu autor, Thomas Lynch, a abertura radical não é apenas uma forma de comportamento, mas sim um estado de espírito. Ele defende que, para alcançarmos um bem-estar psicológico, é necessário a interligação de três fatores cruciais: abertura, flexibilidade e conexão social.

A abertura radical pode ser vista como um exercício de humildade. Ela nos convida a aceitar que não temos uma visão completa da realidade; ou seja, reconhecemos que possuímos limitações perceptuais que nos impedem de enxergar a realidade como ela realmente é. Assumir essa humildade é admitir que não somos os donos da verdade. Estar aberto é, portanto, permitir-se ao novo, desapegar-se do “eu nasci assim, cresci assim e vou morrer assim”. Compreendemos que o novo pode nos potencializar como seres humanos, mas também, por vezes, nos desafiar e provocar desconforto. A abertura radical é dialética: enquanto nos oferece novas possibilidades, ela também exige que abramos mão de nossas convicções e regras. Muitas vezes, somos atraídos por informações que reforçam nossa visão de mundo, e não aquelas que a questionam. Isso pode gerar um processo de interpretação tendenciosa, que sustenta a nossa percepção da realidade.

Como Lynch expõe em seu livro “Radically Open Dialectical Behavior Therapy”,  a abertura radical implica a ideia de que não vemos a realidade como ela é, mas sim através dos nossos vieses. Esses vieses interferem diretamente na forma como nos relacionamos com o mundo e com os outros. A abertura radical, portanto, nos encoraja a ter relacionamentos mais genuínos, sem nos apegarmos exclusivamente à nossa própria visão de mundo, promovendo uma maior conexão social. Ela propõe leveza, pois ao reconhecer nossas falhas, diminuímos a autocrítica excessiva, que frequentemente gera sofrimento.

Estar no espírito da abertura radical envolve um processo de autoinvestigação. Precisamos explorar o que podemos estar deixando passar devido às nossas limitações perceptivas. Contudo, é importante ressaltar que a abertura radical não se traduz em ingenuidade ou em uma aceitação indiscriminada. Não se trata de aceitar tudo sem questionamento, nem de supor que os outros sabem o que estamos pensando, como se tivessem uma “bola de cristal”. A abertura radical é um processo que vai além da intelectualidade; envolve vivências e práticas. Ela não se restringe a uma visão idealizada da realidade, como o conceito de “jogo do contente”, que busca ver apenas o lado positivo das situações, como exemplificado pela personagem Pollyanna. Ao contrário, a abertura radical nos desafia a reconhecer as vivências negativas que nos atravessam e a lidar com elas sem rigidez.

Como Lynch menciona (2018), “os próprios terapeutas precisam praticar a abertura radical para modelá-la para seus clientes”. Portanto, a prática da abertura radical não é apenas um princípio teórico, mas um processo contínuo de transformação pessoal. E você, como anda a sua prática de abertura radical?

Referência bibliográfica:

Lynch, Thomas R. Radically open dialectical behavior therapy: theory and practice for treating disorders of overcontrol. Oakland: New Harbinger Publications, 2018.

Escrito por Gabi Escafura

Graduanda em Psicologia pelo Centro Universitário Celso Lisboa (UCL). É Presidente da Liga Acadêmica em Terapias Cognitivas e Comportamentais (LATCC). É membra ativa da Comissão Própria de Avaliação (CPA) e correspondente discente na Rede Académica das Ciências da Saúde da Lusofonia (RACS). Realiza estágio supervisionado em Avaliação Neuropsicológica no Centro Universitário Celso Lisboa e em Terapia Comportamental Dialética Radicalmente Aberta (RO-DBT) no Centro de Avaliação, Atendimento e Educação em Saúde Mental - CAAESM.

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